sábado, 23 de janeiro de 2010

Sonhos

Ela sonhava. Pra aquela menina, tudo era sonho. Dormir sempre era uma aventura, e ela sempre sonhava. Sempre. Seus sonhos eram sempre incríveis e fantásticos. Mas sempre eram bem sinceros. E verdadeiros. Cheio de cores e vida. Ela não se preocupava se a chamassem de "sonhadora", porque ela sabia que com ela os sonhos falavam. Sim, falavam. Mas era só com isso que ela não se importava. Porque bobinha que era, contava seus sonhos para outrém. E ingênua que era, aceitava palpites de quem nunca sonhara. E pouco a pouco, foram conseguindo. Pouco a pouco, conseguiram adormecer os sonhos daquela menina. Eles fugiram pra algum lugar obstante. Até que num dia nublado e cinzento, ela parou de sonhar.
De tanto que sonhara, vivia sempre se esbarrando em coisas. Desastrada que era. E ria disso. Pra ela ,tudo era motivo de riso. Mas quando parou de sonhar, parou de esbarrar em coisas. Deixou de ser desastrada. Deixou também de sorrir.
Tudo ficou diferente.
O que era colorido, transformou-se em preto- e- branco. Não tinha vontade de acordar, porque só dormia para sonhar. Dormir virou algo insuportável. E ela sofria. Por não sonhar, sentia-se num pesadelo infindável, do qual ela não conseguia acordar. Não queria mais dormir. Resistia firme. Decidira nunca mais fechar os olhos.
Por muitos dias, a menina assim ficou. Mas exausta de tanto relutar, adormeceu.
Ela realmente nascera pra isso, e sem perceber voltou a sonhar. Porque os livros que lia, as músicas que ouvia, as conversas que ela tinha com pessoas que diziam além do que queriam, aumentavam a sensibilidade que ela desconhecera ter. Ela nem queria sentir, e por isso se escondia atrás de mil e uma facetas, ocultando o fato de que ela era mais sensível do que imaginara. Ela não queria ser assim. Mas era. E por não querer ser, preferia usar uma casca dura. Mas só quem a conhecia mesmo, quem a conhecia de verdade, gente com quem ela não precisava nem falar, bastava um olhar;  percebia que a casca era solta. Ela apenas segurava. Tinha medo de soltá-la.
Entretanto, distraidamente sonhando, deixou a casca cair. Agora sonhava acordada. Acordava sonhando. Dormia apenas para parar de sonhar um pouco, porque agora ela sonhava que sonhava, sonhava pensando em sonhar, e quando dormia, acumulava sonhos para o dia seguinte.
Hoje, a menina cresceu, mas ainda sonha. Sonha e divide. Divide com quem sonha também. Porque quem sonha, quem sonha os sonhos do Alto, tem tudo pra realizar o que quiser.
Ela sonha. Divide. E realiza.



4 comentários:

Sir. Dan Costa disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Jonadabe Rios disse...

Muito bom!

, Dêdê :) disse...

- óotimo! Ameei *-*

Liliane disse...

Lendo esse texto me deu uma vontade de dormir e sonhar muito.
DREAM,SOÑAR,RÊVER,חלום......SONHE