segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Esperas

Esse texto foi elaborado para a Oficina de Criação Literária da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Nem preciso dizer: eu-lírico mode on.





Você sempre esperará algo de alguém. É inevitável. De uma forma ou de outra, você nutrirá expectativas com relação às pessoas. Boas ou más, você as nutre. Você confia nisso e de uma forma, sabe-se Deus como, você acredita que suas expectativas serão supridas. Pior que isso: você gosta de conviver com a ideia de que, um dia, elas serão superadas. Então você tenta elaborar mil planos para ser supreendido, de como isso se daria. É natural, você diz. Você diz isso e espera.

Você espera um "bom dia" ao acordar. Você espera que notem suas olheiras no dia seguinte, que percebam que a sua noite não foi das melhores, que te perguntem porquê você chorou tanto ontem à noite, de quem você sente falta. Você espera que o olhar seja recíproco, que sintam falta da sua presença, que perguntem como foi o seu dia, que a caixa do correio esteja cheia, que o telefone toque. Você espera que todos imaginem o quanto você está bem e feliz neste exato momento, que cogitem sobre a sua felicidade e do quanto a sua ausência incomoda, suas histórias, seu jeito. Você espera que sintam saudades.

A campainha. Foi no apartamento ao lado. Você finge não se importar. Já são três horas da manhã, você decide preparar mais uma garrafa de café. Dormir? Hoje não. Há uma grande sala te esperando. A sala está lotada: você e você. Entre um movimento e outro, você espera que alguém adentre à sala. Ninguém. Nesse momento, talvez, você esboce um sorriso. É melhor assim. Repete isso enquanto se olha no vitral da janela. Sua vida tranformara-se numa grande sala de espera. Afinal, pra quê esperar? Num estalo, percebe-se.

- Não preciso esperar- murmura. Principalmente, quando não há ninguém fazendo o mesmo por mim. A vida é uma questão de conveniência. Alguém pode te ligar hoje, amanhã não, as pessoas fingem, é tão mais cômodo, tão fácil. Ninguém está interessado se você teve pesadelos ou sonhos na noite passada, ninguém se importa com o fato de você estar cansado hoje ou não. Tão mais cômodo ser assim, tão mais cômodo fingir.

Repetia isso, queria se sentir melhor.
- Você pede licença porque quer passar, diz "obrigado" para não romper protocolos, tenta olhar nos olhos na esperança de mostrar uma verdade. Você é especial até o dia que isso convir a alguém. A vida é assim, as pessoas são assim e todos sorriem uns para os outros, porque eu só dou o que eu recebo, isso é lógico, óbvio. Enquanto isso todos seguem o script, e encenam a peça teatral. Uma fantasia é bem mais interessante do que um fato real. Nu, cru, como ele é.


Neste momento, talvez, você esboce um sorriso. Sou feliz demais. Você agora está do outro lado da cidade, tomando um café com a velha e amarga companheira de longa data, sua cara solidão; divagando sobre todas essas coisas enquanto se entorpece com mais uma xícara de cafeína. Daí você conversa, entre um gole e outro, sobre o quanto a sua vida é boa, o quanto ela está ótima agora, melhor impossível, sobre o quanto as pessoas são desnecessárias na sua vida.

O telefone tocou. Café demais faz a gente delirar.







Um comentário:

♥ Luciana de Mira ♥ disse...

Passando por alguns blogs encontrei o seu e gostei muito de seu cantinho e estou seguindo! Aproveito pra te convidar a conhecer o meu também, espero que goste! Beijinhos!